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Labirintos da "Labirintite"

Keli Vasconcelos

“Sentia tonturas e tudo rodava ao meu redor, mesmo com os olhos fechados. Em seguida uma ânsia de vômito muito forte. Confundia essas tonturas com a vista. Muita gente fala que quando os óculos estão ‘vencidos' é sinal de ir ao oculista. Trocava os óculos, mas a tontura persistia. Isso foi agravando e hoje sinto como se meu cérebro estivesse tremendo também. É terrível”. Esta é a descrição feita pelo operador de empilhadeira, hoje afastado, Domingos Santos de Jesus, 52 anos, morador de Vila Curuçá, zona leste da capital paulista, quando está com “labirintite”, diagnosticado há um ano com o problema.

O termo “labirintite” é a forma popular de designar as doenças que afetam o labirinto, órgão localizado na parte interna do ouvido, que tem por função transmitir informações para o cérebro responsáveis pela audição e o equilíbrio. “Muitas são as causas de labirintopatias. E muitas doenças podem ocasionar uma disfunção neste sistema; como conseqüência levar a um quadro de desequilíbrio. Nos idosos as causas metabólicas e vasculares são as mais importantes. ‘Labirintite' é considerada uma disfunção de um sistema que é secundária a uma outra doença. Em alguns casos a doença pode ser intrínseca do próprio labirinto”, explica Arthur Castilho, otorrinolaringologista do Hospital das Clínicas da Unicamp.

Os incômodos labirínticos podem atingir todas as idades. “Para se ter uma idéia, segundo o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, 42% da população já sentiu algum tipo de tontura na vida e na maioria dos casos tem relação com distúrbios do labirinto”, comenta o otorrinolaringologista Mário Munhoz, professor de Otoneuologia da Unifesp.

As principais queixas são tonturas, perda auditiva e zumbido. No caso das labirintopatias, a pessoa tem crises vertiginosas (vertigens): o paciente tem a impressão de que os objetos, rodopiarem ao seu redor - tipo de instabilidade rotatória -, principalmente em atividades de movimentação da cabeça (sentar-se ou levantar-se da cama, por exemplo) ou mesmo quando está imóvel. Parte das situações culmina em quedas. “As pessoas possuem sentidos responsáveis pela orientação: o visual, o auditivo e o muscular. Nos idosos estes estímulos estão reduzidos, o que dificultam seu equilíbrio”, completa Munhoz.

Estima-se que existam cerca de 300 enfermidades que atacam o labirinto com mais de 2 mil causas já identificadas. O número de moléstias que resultam em labirintopatias também é grande: vão de inflamações locais a traumas sonoros, passando por problemas da coluna cervical até o consumo exagerado de cafeína, açúcar, álcool e tabagismo.

Em primeira instância, necessita-se descobrir o motivo que desencadeou a “labirintite” para depois diagnosticar a terapia ideal, o que requer, inclusive, uma avaliação multidisciplinar com fonoaudiólogo, fisioterapeuta, psicólogo, neurologista, entre outras áreas médicas, além do otorrino para melhorar a qualidade de vida do paciente. “É preciso avaliar a história do indivíduo e seus antecedentes de saúde com testes específicos e avaliação otoneurológica para ajudar na investigação de possíveis causas da labirintopatia”, expõe Dr. Mario Munhoz. E salienta: “O idoso que não escuta bem se isola, o que gera nele outras doenças”.

Na lista de distúrbios do labirinto, dois tipos são mais comuns: a Doença de Menière e a Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB).

A primeira é freqüente em pessoas acima dos 40 anos, caracterizada pela pressão no ouvido, desequilíbrio crônico e zumbidos. A sensação de ouvido tampado na Doença de Menière é causada pelo aumento excessivo de líquido existente na região labiríntica, o que provoca a dilatação dos canais e afeta o equilíbrio (labirinto) e a audição (cóclea).

Já a Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB) acomete os idosos e também tem causas variadas. “Este tipo de labirintopatia consiste no deslocamento de pequenos cristais que se encontram nas células do equilíbrio. Uma vez que saem da posição em que deveriam estar, causam uma irritação do labirinto. Esta irritação acaba enviando informações erradas ao sistema nervoso central sobre o deslocamento e o posicionamento espacial, o que gera a sensação de vertigem. Não sabemos ao certo a causa do deslocamento destes cristais de sua posição inicial”, afirma Dr. Arthur Castilho.

Os tratamentos para as labintopatias vão conforme cada paciente, relembrando a investigação a priori de outras doenças que desencadearam as crises, com exames de verificação do equilíbrio e, dependendo do caso, o uso de remédios. No caso da VPPB, segundo o otorrinolaringologista Mário Munhoz, os pacientes aprendem e executam manobras de reabilitação para mandar as chamadas ‘pedrinhas' de carbonato de cálcio para seu lugar correto, sem a necessidade de prescrição medicamentosa.

De acordo com os especialistas, a estratégia para aliviar os distúrbios é garantir uma boa saúde global. Praticar exercícios físicos, beber líquidos, corrigir erros alimentares e fracionar refeições – não comer exagerado e também não “passar fome” - e evitar vícios são os hábitos que agradam e melhoram todos os ouvidos.